O empreendedorismo do fotojornalista venezuelano Johan González em terras mineiras

21 de Junho de 2021 às 21:00

22/06/21

  

Por: Amanda Marques

Fotos: Johan González

A crise política, econômica e social da Venezuela foram as motivações que fizeram com que o fotojornalista Johan González, de 35 anos, buscasse novas oportunidades no Brasil. Há quase 3 anos em Minas Gerais, Johan teve que se reinventar para recomeçar sua vida. “Embora minha saída da Venezuela tenha sido em 17 de novembro de 2018, meus planos de deixar aquele drama para trás começaram em 2016. Comecei a estudar algumas coisas em português... e no início era muito difícil me comunicar, mas aos poucos fui aprendendo graças à leitura, aos amigos e à música”, recorda Johan.   

Atuando no jornalismo investigativo, ele viajava por várias cidades da Venezuela retratando a miséria causada pelo seu regime político. E suas reportagens foram publicadas em várias mídias impressas e digitais nos Estados Unidos e em alguns países europeus.  

Ganhou o 1º lugar de Melhor Fotojornalista do Ano (2016), prêmio concedido pela maior associação de repórteres da Venezuela - CRGV Círculo de Repórteres Gráficos da Venezuela. Mas como consequência, sentiu na pele a repressão comunista: começou a receber sérias ameaças, principalmente devido a algumas fotos que fez de um homem comendo lixo: “Foi aí que tomei a decisão de vender minhas coisas e sair de casa para sempre. Saí com uma mochila com pouca roupa e 4 dos meus livros favoritos. Foram dias tristes, de passar fome, de chorar muito, de trabalhar por um país que caiu na escuridão e que parece não ter solução. Viajei por 6 dias de ônibus, atravessei toda a Colômbia até chegar a Guayaquil, Equador, onde iria trabalhar com um amigo. Psicologicamente fiquei muito afetado pela quantidade de coisas que aconteceram em tão pouco tempo, o que refletiu no físico - perdi 8 quilos. Após 3 semanas morando naquela cidade, tive contato pelas redes sociais com uma mulher de Ipanema (MG) que ficou chocada com as fotos do meu país em ruínas. Começamos uma amizade e alguns dias depois decidi vir para o Brasil, Minas Gerais. Foram mais 11 dias de ônibus... viajando pelo Equador... passando por todo o Peru... até chegar à cidade dela”, relata o fotojornalista.  

Algumas semanas depois, sua amiga o ajudou a ir para Coromandel, onde iria morar e dividir as despesas com uma outra venezuelana, que coincidentemente era da mesma cidade dele. Conseguiu um trabalho no “Jornal de Coromandel”, como freelancer, foi então que conheceu a Dona Célia, que ele considera como a sua mãe brasileira e a filha dela, que o acolheram e o ajudaram muito.  

Em março de 2019, em busca de novas oportunidades, Johan se mudou para Uberlândia e recebeu o apoio de outros familiares da Dona Célia, que também lhe ajudaram muito. “Aqui procurei trabalho nos meios de comunicação e em muitos outros lugares... trabalhei em um restaurante e depois fiz um projeto de vídeos para corretores imobiliários. A minha dificuldade foi entrar num mercado que não correspondeu a minha expectativa, pois muitas empresas já tinham seus próprios equipamentos”, recorda Johan.     

Nessa busca, Johan teve a oportunidade de trabalhar em uma fazenda na cidade de Douradoquara (MG), na fabricação de queijos artesanais: “Foi uma grande oportunidade, mesmo sendo em uma área que eu nunca tinha trabalhado, pois lá aprendi a fazer queijos e muitas outras coisas. Porém fiquei apenas algumas semanas, porque a Sra. Marly Leite, produtora de “Queijos Senzala”, em visita àquela fazenda, convidou-me para trabalhar em sua empresa em Sacramento/MG”, disse Johan.  

Novos rumos 

A experiência de trabalhar com “Queijos Senzala”, que foi premiado na França, em 2017, tem sido muito positiva em sua vida, não só no âmbito profissional, mas também no pessoal: “Ganhei um grande amigo que me ajudou bastante e a quem devo muito do que tenho hoje... Reykmam Leite, filho dos produtores daquela empresa e dono da loja ‘Vitrine Artesanal’”, relata Johan.   

No início de maio, desse ano, Johan mudou-se novamente para Uberlândia, e aqui pretende abrir uma loja física em parceria com o amigo: “Atualmente trabalho na parte de marketing e comunicação dessa empresa e da loja que inauguraremos em breve em Uberlândia. Na loja vendemos toda a linha de “Queijos Senzala” e outros produtos de alta qualidade que são produzidos em Sacramento. Graças ao poder do marketing, conseguimos gerar mais vendas na loja virtual”. 

Além desse trabalho, para se manter Johan fotografa produtos, ministra aulas de fotografia online e ainda faz um trabalho de marketing para clientes que conhece pela internet e procura sempre atualizar seus conhecimentos: “Desde o ano passado venho estudando Gestão de Tráfego. Meu trabalho atual consiste em fazer campanhas no Google Ads e Facebook para pequenos negócios locais e também para venda de serviços. Ofereço um serviço completo de fotografia, design, vídeos, copy e suporte de atendimento ao cliente. E estou desenvolvendo meu projeto pessoal que trata de cursos e consultorias de marketing para o público de língua espanhola”. 

Johan se considera uma pessoa determinada; afirma que teve um crescimento profissional grande nesses últimos anos aqui no Brasil, mas não descarta a possiblidade de viver em um outro país: “Quero continuar crescendo e quem sabe um dia eu possa me mudar para a Espanha, onde vivem vários membros da minha família porque para a Venezuela, apesar de meus pais e irmãos ainda viverem lá, por enquanto não penso em voltar, pois só quem conhece aquela realidade sabe o infortúnio que isso significa. Mas posso dizer que apesar de a política ter ferido a minha vida, também abriu uma grande oportunidade”, finalizou Johan, que faz questão de agradecer a todos que, de uma forma ou de outra, vem colaborando com ele aqui no Brasil.  

Quem quiser conhecer um pouco mais o trabalho e os produtos que Johan representa:  @johan_gonzalez_repor e @vitriartesal ou visite o site www.queijosenzala.com.br


Amanda Marques

Jornalista, Fotógrafa e mãe do Thalles
contato@amandamarques.com