A ousadia e o pioneirismo do jornalista uberlandense Neivaldo Honorio Silva, o MAGOO

9 de Outubro de 2021 às 21:00

10/10/2021

 

Por: Amanda Marques

Fotos: Arquivo Magoo

Natural de Uberlândia, nascido numa madrugada de domingo de muita chuva, Neivaldo Honorio da Silva, o Magoo teve seu primeiro contato com o Rádio ainda na infância, influenciado pela mãe, a Sra. Mariana, que era uma ouvinte assídua: “Minha mãe escrevia cartas, participava de tudo e nos incentivava a participar também dos diversos sorteios que as Rádios Educadora, Uberlândia e Difusora promoviam na época. Da Rádio Educadora me lembro de no começo de ano, ganharmos cadernos, réguas, lápis e outros materiais de escola.” 

O pai, o Sr. Lourival, também teve participação nesse amor que o jornalista tem tanto pelo Rádio quanto pelo futebol: “Meu pai ouvia muitos jogos de futebol no rádio de pilha, bem pequeno e quando éramos pequenos ele comprou duas mochilas, meu irmão pegou a do Flamengo e eu fiquei com a do Corinthians, e ninguém queria... porque o Corinthians não ganhava... os meninos da escola pegavam no pé... e foi aí que decidi que então seria sim corinthiano mesmo... rsrsrs. Hoje as pessoas não entendem porque há tantos torcedores aqui dos times ou de São Paulo ou do Rio de Janeiro. Mas a explicação é muito simples... na década de 70... 80... não entrava nenhuma programação de Belo Horizonte, então os times desses outros estados conquistaram os mineiros, além de termos a Mogiana, que amanhecia com as publicações mais recentes dos campeonatos Carioca e Paulista.” 

Da época de infância, recorda como muita gratidão de como seus pais o ensinaram a valorizar cada conquista e a “fazer do limão uma limonada”. Por volta dos 6 anos, se mudaram do Centro (de um apartamento no prédio Regis Elias Simão, na Afonso Pena quase esquina com a Machado de Assis, onde seu pai trabalhava como porteiro) e foram para o Santa Mônica: “Mas na época não existia esse bairro que conhecemos hoje... Me lembro do meu pai com cerca de 30 anos de idade, sair do trabalho, correr em casa, tomar banho e ir para a Escola concluir o ensino básico e ainda aprender um pouco de inglês, pois ele queria ser mecânico de tratores e ganhara uma oportunidade na Sotreq, uma das maiores revendedoras de máquinas Caterpillar do Brasil. Depois de morarmos por um pequeno período com um familiar, fomos para a nossa casa, que ficava em uma rua paralela à Av. João Naves de Ávila que no meu tempo era a Avenida A, tinha uma curva, depois virou Av Segismundo Pereira e a “perdeu” a curva que virou Rua Matheus Lucas. Recordo que havia uma linha de trem que vinha de São Paulo, passava pela avenida (João Naves de Ávila) chegava ao centro (Hoje Terminal central) e seguia pela Av. Monsenhor Eduardo, em direção a Araguari. E com as outras crianças fazíamos a maior festa quando o trem passava, pois tinha uma pequena parada bem perto da minha casa e que algumas pessoas aproveitavam para ‘saltar’ do trem”.

O apelido Magoo surgiu por volta dos 14 anos, quando ao pensar que prendeu a corrente na bicicleta que utilizava para ir para a escola, fez na verdade a proeza de colocar o cadeado na corrente sem o prender na roda: “Na época tinha um desenho animado de um velhinho, o Mr. Magoo, que fazia umas confusões desse tipo... e os meninos logo me chamaram de Magoo.”

O Mr. Magoo, era um aposentado míope e fazia muitas confusões por conta disso. No final da década de 90 foi revelado que o personagem dele era uma crítica política a um senador americano, postura que o jornalista acredita ser importante: “Temos que nos envolver com as questões sócio-políticas de onde vivemos, não podemos ficar alheios aos acontecimentos”. 

Trajetória

Magoo e a irmã Sandra na casa do avô Alcidino no Bairro Brasil – 1967

Sandra, Elaine (prima), Magoo, Ricardo e Valeria - Praça Tubal Vilela - 1974

 

Magoo, começou seus estudos no 1º Jardim de Infância do Estado em Uberlândia, o Centro Educacional Suzana de Paula, que ficava na Av. Floriano Peixoto onde hoje é a Igreja Presbiteriana, e que funcionou de 1968 a 1972. Depois estudou nas Escolas Estaduais Bueno Brandão, Antônio Luiz Bastos, Joaquim Saraiva, e Messias Pedreiro. E desde muito novo sempre teve muita facilidade para escrever e se comunicar e se tem uma coisa que Magoo não tem é timidez e com certeza uma das suas maiores qualidades, além da generosidade, é a sua memória: “Na verdade, penso que a memória nós construímos de forma afetiva, ou por alguma situação ou momento. Podemos usar a nosso favor uma lembrança, um cheiro, um sabor, e além disso sempre irmos atrás de respostas e não desistir na primeira dificuldade. Devemos sempre ampliar o nosso conhecimento, independentemente de qualquer coisa.”  

O Jornalista começou a trabalhar informalmente na Rádio Visão, com apenas 16 anos: “Sempre que eu podia, ia para a Rádio para conversar... observar... e nessas idas eu datilografava um programa, ou gravava um áudio. A locutora, Raquel Diniz, me perguntou um dia se eu podia escrever uma crônica sobre esporte, então escrevi e ela gostou. E depois disso sempre escrevia sobre algum tema e levava para ela.”

De forma voluntária e pela magia que o Rádio representava para o Magoo, por cerca de 6 meses, aos poucos ele praticamente já sabia fazer de tudo no Rádio: “Um dia, o Celson Martins Borges, vendo aquilo me disse: ‘o garoto o que faz aqui’? Então expliquei... e ele: ‘traga a sua carteira de trabalho que vamos contratar você’. Esse registro foi feito no dia 06 de janeiro de 1983, como locutor e entrevistador esportivo... (risos) mas na verdade eu fazia de tudo”, recorda Magoo. 

Na época, a cidade tinha dois times, o UEC - Uberlândia Esporte Clube (o verdão), e o XV de Novembro (o time azul): “Foi cobrindo o futebol, que ganhei experiência. Muitos me perguntam se foi nessa época que escolhi o UEC como time do coração (além do Corinthians e do Fluminense), porque o Uberlândia sempre teve aquela magia, o estádio Juca Ribeiro... víamos os treinos da Rádio, que ficava no Edifício Walmaq, mas o que eu sempre digo é que: ‘eu torço é pela cidade de Uberlândia’... torço para o Vôlei... para o basquete... para tudo que leva o nome de Uberlândia”. 

E desde que começou na Rádio Visão, hoje Rádio América de Uberlândia (AM 580), Magoo não parou mais. Ele é um jornalista ousado, que está à frente do seu tempo, é um profissional que aprendeu na prática e com poucos equipamentos disponíveis: “E devo muito a essa trajetória de sucesso ao Grupo Paranaíba que me deu total liberdade por mais de 30 anos atuando na empresa e o incentivo para improvisar.”

Com muito orgulho e satisfação recordou dentre tantas histórias vividas na empresa, da eleição de 1996, entre Virgílio Galassi e Zaire Resende: “Era a quarta vez que Virgílio disputava as eleições, que foi para o segundo turno. Na época a disputa foi acirrada como não ocorria há muito tempo. Tínhamos um bom time, composto por recém formados da FIT (Faculdades Integradas do Triângulo, hoje Unitri - hoje grandes jornalistas atuando em outras cidades, como Fábio Castro, Dione Tiago, Kátia Medeiros, Teresinha Moreira dentre outros) para fazermos uma pesquisa de intenção de votos, por que curiosamente nenhum instituto faria isso e as últimas pesquisas anteriores eram divergentes. 

Como a disputa envolvia apostas e paixões com cada lado cantando uma vitória com boa margem de votos, nós resolvemos enfrentar a dúvida. 

Naquele domingo de votação, por três vezes, de forma alternada, nos espalhamos os repórteres pela cidade e depois de contar e recontar cada parcial sem divulgar, fizemos a totalização, utilizando uma calculadora simples, vimos que Virgílio iria ganhar por uma pequena margem. Nesse dia, nem almoçar quisemos, para você ver o grau de envolvimento. 

Então adiantei o relógio em 5 minutos, quando deu 17h no relógio da Rádio, na verdade faltavam 5 minutos, o operador abriu o microfone e demos a notícia em primeira mão da vitória do Virgílio.”

Como se fosse ontem, Magoo, recordou do alvoroço que causaram na cidade e principalmente na própria empresa: “O Aryzinho (Ary de Castro Santos Junior) por pouco não despediu todo mundo... rsrs horas depois tivemos a confirmação da vitória e de que a diferença foi de apenas 725 votos”. E como resultado do seu pioneirismo recebeu naquele ano, o “Prêmio ASCOM de Comunicação”, de melhor comunicador Rádio AM, além de vários outros ao logo da sua trajetória.

Não demorou para que Magoo também atuasse na TV, e um dos programas que fez o maior sucesso na cidade foi ao lado do jornalista Luiz Fernando Quirino e da Dindinha, do famoso Balcão de Empregos da Educadora: “Fazíamos o programa na garagem da TV, o TUDONATV e de cenário usávamos uma lona com o nome do programa e apenas um banco simples, um orelhão (telefone de uso público), uma banca de revista e muito improviso. Claro, que sempre nos pautávamos por levar informações precisas, com responsabilidade, com o respeito ao público e dando voz as suas necessidades e talentos... revelamos muitos artistas.”

Para o jornalista, é fundamental que o profissional se preocupe com os erros de informação, tenha compromisso com a verdade: “O que eu falo é saber separar “Um erro” ao qual estamos todos sujeitos a cometer e que é diferente de fakenews, que muitas vezes é criada com o fim de prejudicar, denegrir e atrapalhar.” 

E da mesma forma que foi acolhido pelas empresas que passou ao longo desses anos, ajudou a formar muitos profissionais.

Com a popularidade, Magoo viu que estava na hora de fazer mais por Uberlândia e em 2000 concorreu ao cargo de Vereador, e com apenas um mês de campanha, foi bem votado, com mais de 1.300 votos mas não conseguiu se eleger. No ano de 2004 tentou novamente pelo PSDB (onde permanece até hoje) e foi eleito, com mais de 4000 votos assumindo o cargo em 2005, sendo líder do prefeito Odelmo Leão entre 2005 e 2008. Nas eleições seguintes ficou como suplente, sendo que em 2020 assumiu por 11 meses, depois que o vereador eleito foi afastado. Mas o fato dele não estar diretamente no cargo de Vereador, não significa que ele se afastou da política, pelo contrário, o aproximou ainda mais. Trabalhou durante 8 anos com o saudoso Deputado Estadual Luiz Humberto e isso além de possibilitá-lo conhecer as necessidades do Estado, também o ajudou a colaborar ainda mais com Uberlândia: “ Com o Luiz Humberto foi uma experiência incrível por que vi a conquista de 5 Escolas Estaduais, recursos para a saúde, implantação de novos bairros, videomonitoramento, viaturas, nossa, uma infinidade de conquistas que foram “suadas” e o melhor, vi isso acontecer na cidade e na região e sempre com o trabalho e a dedicação, sem se importar com o reconhecimento do público. Várias vezes eu queria que o Luiz Humberto aparecesse para mostrar que foi ele quem trouxe o benefício para a cidade e ele ficar quieto, dizendo que o mais importante não quem trouxe o benefício, mas sim quem vai se beneficiar dele, o povo”. 

Novos Projetos

Hoje, o Jornalista, é Diretor de Esportes, Lazer e Qualidade de Vida da FUTEL – Fundação Uberlandense do Turismo, Esporte e Lazer, mas quem o conhece sabe que ele vai além... e com maestria tem trabalhado na Campanha de Vacinação da Covid-19 e paralelo a isso, com a comunicação, tanto através das suas redes sociais quanto projetos especiais na área de comunicação: “Fui convidado para fazer um programa especial em homenagem aos 100 anos do seu Ary de Castro, e estou me dedicando muito para que na semana do 17 de Dezembro a cidade saiba quem foi este Ser Humano Extraordinário”.

Magoo se orgulha de ser uberlandense e de ter presenciado e participado da história da cidade nesses quase 40 anos de profissão: “Cada gestor fez com que Uberlândia crescesse de alguma forma; a determinação deles foram fundamentais. E vejo que a minha história tem muita influência de tudo isso... tenho convicção de que para haver crescimento... progresso... é preciso ter ousadia, determinação e coragem. E isso a cidade e seus habitantes têm de sobra. Uberlândia tem a 24ª concessão de Rádio (Difusora) do Brasil, é a 20ª emissora de TV (Integração) do país; tinha o 2º maior cinema do Brasil (que era o Cine Avenida, na Av. Afonso Pena), com quase 3 mil lugares; tem quase 1 000 000 de habitantes... Como não se orgulhar?” 

Magoo também trabalhou na TV Triângulo, hoje TV Integração (afiliada Rede Globo), na Rádio Cultura, hoje Rádio Mix FM, e Rádio Difusora. Nos periódicos Jornal Primeira Hora e Estado de Minas. Foi Secretário de Comunicação entre os anos 2009 e 2010. E por um curto período também trabalhou em Brasília – DF.

Ao finalizar, Magoo afirmou que nesses quase 40 anos de profissão aprendeu demais, e ainda aprende e que só tem a gradecer tudo o que o jornalismo trouxe para a vida dele: “Eu acho que eu pude ser o “Repórter Esso”, porque o slogan do Repórter Esso era ‘a testemunha ocular da história’, e eu vi a história de Uberlândia nesses 40 anos, todos os grandes momentos, as pessoas, as ideias ousadas... e a cidade é o que é por conta de tudo isso, aqui se pensa 20... 30 anos à frente. E eu continuo meu trabalho na certeza de que todos nós temos que fazer a nossa parte da melhor forma possível. Agradeço a todos, pela amizade, trabalho, elogios e críticas, e vamos seguir firmes.”   

*O Jornalista, que completa 56 anos neste domingo, tem mais três irmãos (Sandra, Ricardo e Valéria), é casado com a nutricionista Luciana Chagas e pai do Vinicius (estudante de Ciências da Computação), do Ghabriel (Biólogo - Pós-graduado e mestrando) e do Wilker (estudante do Ensino Médio). 

  
 


Amanda Marques

Jornalista, Fotógrafa e mãe do Thalles
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