A famosa dama nasceu no dia 2 de janeiro de 1800 e faleceu em 21 de dezembro de 1873
Por Pedro Popó
Anna Jacintha de São José, a Dona Beija, nasceu em Formiga (MG), no dia 2 de janeiro de 1800. Era filha de Maria Bernarda dos Santos e de pai desconhecido. A própria Beija, certa feita, teria revelado para suas filhas que o genitor era um caixeiro viajante, de São Paulo, que passava pela região, enamorou-se de sua mãe, e a engravidou, indo embora logo depois. A criança acabou sendo criada pelos avós, que viveram naquela localidade até a menina completar quatro anos.
Nesse período, a mãe de Beija teria conhecido outro homem e se engravidado, nascendo então Francisco Antônio Rodrigues. Foi quando, segundo contava a famosa dama, que seu avô, que tinha o prenome de Pedro, mudou-se com a família para o arraial de São Domingos do Araxá, atual Araxá, empregando-se numa fazenda do lugar. Os avós de Beija, entretanto, não se importaram em lhe dar estudos. Beija nunca soube ler nem escrever, apesar de ser muito inteligente.
Por volta de 1815, chegou a São Domingos do Araxá o ouvidor da Corte, dom Joaquim Ignácio Silveira da Mota. Naquele tempo, os ouvidores percorriam as regiões com o intuito de resolver questões relativas à Justiça e para agradar a autoridade, os mandatários do lugar promoveram um baile em sua homenagem. Os avós da menina Beija ficaram sabendo do evento e decidiram comparecer, não imaginando o que estaria reservado para a neta que ambos criavam.
Encantado com a beleza de Anna Jacintha, ao preparar a viagem de volta para Vila Boa de Goiás, de onde viera, o ouvidor mandou seus guardas raptarem-na, fato que ocorreu numa madrugada. Assim, Dona Beija viveu ao lado do seu raptor por volta de um ano, quando a autoridade precisou voltar à Corte. Contam que antes de partir, o ouvidor mandou Beija pedir o que quisesse. Ela então pediu que o julgado de São Domingos do Araxá fosse desmembrado de Goiás e fosse anexado à Comarca de Paracatu do Príncipe, pertencente a Minas Gerais.
Essa é a versão que contam. Mas o fato é que na verdade desde o ano de 1814, autoridades dos julgados de Desemboque e de São Domingos do Araxá, os dois lugares mais importantes da região, já reivindicavam o desmembramento de seus territórios, por estarem insatisfeitas com o domínio da província de Goiás. A anexação a Minas Gerais ocorreu no dia 16 de abril de 1816 por meio de alvará de Dom João VI. Pelo sim pelo não, por ter sido mulher do ouvidor e exercer grande influência sobre ele, é bem provável que ela o tenha pedido mesmo.
Dona Beija não morou em Paracatu do Príncipe, hoje Paracatu e nem foi levada pelo ouvidor para morar com ele num palacete, conforme alguns historiadores afirmam. Quem morou naquela localidade foram parentes dela, que se mudaram para a localidade ainda quando a famosa personagem residia em São Domingos do Araxá. O ouvidor da Corte também não teria vindo de Paracatu e sim de Vila Boa de Goiás e da antiga capital goiana foi chamado para retornar à Corte.
Outro fato que merece reparos é o com relação ao suposto namorado de Dona Beija, chamado Antônio Sampaio. Ele nunca existiu, foi uma criação de araxanos para encobrir, na verdade, o relacionamento da dama com o padre Francisco José da Silva, vigário de São Domingos do Araxá e de quem a mulher teria se engravidado. Portanto, Tereza Thomásia de Jesus, a primeira filha de Beija, nascida no dia 24 de fevereiro de 1819, não tem nada a ver com Sampaio. O próprio padre legitimou a filha em maio de 1831, conforme está documentado.
É verdade que Dona Beija criou em São Domingos do Araxá a famosa Chácara do Jatobá e nela recebeu personalidades importantes da Corte, tornando-se uma das mais famosas cortesãs do Brasil Império. Nesse lugar, a personagem reinou por muitos anos, mas em 1830 já decidida a mudar de vida mandou construir na Praça da Matriz um sobrado e nele passou a viver depois com as suas filhas até se mudar para a Cidade da Bagagem, hoje Estrela do Sul. Dois anos depois no dia 16 de janeiro de 1833, Teresa Thomásia de Jesus viria a se casar com Joaquim Ribeiro da Silva Botelho, seu primo, sobrinho do pai dela, o padre.
Sobre a segunda filha de Dona Beija, chamada Joana de Deus São José, essa nasceu no dia 14 de julho de 1838. Ela era filha de um médico chamado João Carneiro de Mendonça, que se encantou pela jovem e com ela manteve longo relacionamento. Joana de Deus casou-se com o Clementino Martins Borges, que se tornou mais tarde o primeiro agente executivo da Cidade da Bagagem e que foi grão-mestre da loja maçônica do lugar, uma das mais antigas do País.
É verdade que Dona Beija colaborou com os políticos de São Domingos do Araxá que participaram da famosa Revolução Liberal 1842. O movimento era liderado pelo Partido Liberal opositor ferrenho do Partido Conservador, travando uma disputa entre os dois lados, em razão de os conservadores terem assumido o poder. Segundo dados que comprovam a sua colaboração, autoridades do lugar pediram dinheiro à personagem, pois precisavam financiar o movimento. Dona Beija doou 100 mil réis aos líderes do movimento e apoiou os amigos liberais.
Dona Beija se mudou para a Cidade da Bagagem por volta de 1853. Naquele ano, no dia 2 de março, havia sido descoberto nos garimpos do lugar o diamante Estrela do Sul, que rapidamente ganhou fama em todo o País. Influenciada pelos Borges e pelos Ribeiro da Silva, que a chamavam para também ir em busca das grandes e belas gemas, ela se mudou, levando consigo o irmão Francisco, indo morar numa casa situada às margens do Rio Bagagem, de onde ela podia ver a igreja de Nossa Senhora Mãe dos Homens, a santa de sua devoção.
Em 1871, a ponte sobre o ribeirão, pela qual Dona Beija passava para ir rezar na igreja, desmoronou e a famosa personagem então, para não ficar sem ver a procissão da Santa passar pela sua porta, encabeçou uma campanha para a sua reconstrução, doando ao município uma boa quantia em dinheiro. Contam que a ponte ficou pronta a tempo de a famosa dama, já em vida penitente, pudesse ver a procissão. Dois anos depois, no dia 21 de dezembro, ela falece em sua casa, acometida por uma nefrite. Seu corpo foi enterrado na antiga Praça da Matriz.
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