A história da festa de Nossa Senhora da Conceição no morro da Bagaginha

8 de Dezembro de 2024 às 14:12

Fotos tiradas pelo repórter fotográfico Manoel Serafim de Lima, na década de 90.

Pedro Popó

Jornalista

Nesse domingo, dia 8 de dezembro de 2024, comemora-se em Estrela do Sul a tradicional festa de Nossa Senhora da Conceição, padroeira da Bagaginha, um dos lugares mais antigos do Município e que hoje é um bairro da cidade, mas que no passado era um lugarejo famoso habitado por garimpeiros descendentes de escravos que procuravam diamantes no Rio Bagagem, que margeia o lugar. 

Segundo contava o professor e historiador, Mário Lúcio Rosa, que morava no bairro, tudo começou no ano de 1901, com um morador chamado Simplício Pereira Caldas, que por um fato ocorrido na sua vida, guardado em segredo, mandou construir uma capelinha dedicada à virgem no alto do morro da Bagaginha como forma de pagar uma promessa feita em relação ao ocorrido.

A capelinha não demorou a ficar pronta, construída sob as suas expensas e com a ajuda dos próprios moradores, por meio de mutirão aos domingos. Terminada a obra, chamaram o padre para celebrar a primeira missa e em seguida, deram início à festa, com a realização das novenas, iniciadas no dia 29 de novembro e com o término no dia 7 de dezembro, deixando o dia 8 para as comemorações.

O construtor da igrejinha foi o pedreiro Olímpio da Silva Dâmaso, conhecido por Olímpio Bagaginha, que se mudou para a localidade ainda pequeno e no lugar se casou e criou a família, com a maior parte dos filhos lhe seguindo no ofício. Contam que o trabalhador também desenhou o projeto, demarcou o espaço em cima do morro e com a sua habilidade autodidata comandou toda a construção.

Foi nesse período que também começou a tradicional capina do morro, conforme já narrei aqui. Como havia muito mato do pé ao cume da pequena montanha, e dificuldade para os fiéis subirem até a igreja, o povo foi convocado para limpar ao redor e construir a escadaria com alavancas, pás e enxadões e fazer a roçagem e capina com as foices, facões e enxadas, quitandas e uma bebidinha.

O funcionário público federal aposentado Geraldo Alves Ribeiro, sobrinho do saudoso pedreiro Olímpio Bagaginha, e que nasceu na Bagaginha, conta que a capina, antigamente, não era só a do morro, mas, sim, de todas as ruas por onde passava a procissão da Virgem. No dia da festa o trajeto era enfeitado com bananeira, arco de bambuzal e folha de babaçu para o andor da Santa passar.

Ele recorda, ainda, que nesse dia o bairro se festejava. Jovens se levantavam de madrugada e iam nos pastos buscar as ramagens para a ornamentação e embelezavam as ruas. Era também dia de estrear sapatos novos, vestir roupas novas, se arrumar, enfim, tudo para assistir à missa da parte da manhã e depois no início da noite acompanhar a procissão e a coração de Nossa Senhora.

Naquele tempo, nos primeiros anos, a capela ainda não tinha uma imagem em louvor a Nossa Senhora da Conceição. Só havia o cruzeiro que fica do lado de fora, de frente para o centro da cidade. A entronização dela no altar só ocorreu em 1905 quando Simplício mandou trazer, acredita-se que tenha sido de alguma cidade maior, a Santa que existe até hoje e que é venerada pelos moradores.

O segredo de Simplício nunca foi revelado, mas por meio de depoimentos orais colhidos com antigos moradores, porém nunca confirmados, há uma versão mais próxima, que não ouso relatar aqui, mas que pela solução da altercação, o velho morador fez o voto e alcançada a graça cumpriu a promessa. Hoje quando o dia 8 de dezembro cai num dia letivo, tem o feriado religioso para louvar a Santa.

Com a morte de Simplício Caldas, a tradição religiosa seguiu com Olímpio da Silva Souza, o Olímpio Bagaginha, que dá nome à principal rua do lugar; e após com as famílias de Teotônio de Souza, João de Vasconcelos e João Batista Bacelar cujas ruas situadas ao redor do morro levam o nome desses últimos, e atualmente é abraçada por todos, com muito amor e devoção pela comunidade.

Esses moradores citados foram muito importantes para a localidade, cada um com a sua relevância e por pertencerem às famílias antigas do bairro. Desde 1983, os três últimos emprestam os nomes às ruas em torno do morro numa homenagem feita pelo então vereador Pedro Divino Rosa, o Pedro Popó, que, também, na época, reivindicou a cimentação da escadaria que era de terra.

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Amanda Marques

Jornalista, Fotógrafa e mãe do Thalles
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